Pipoca que o pariu.

Desisto. Não dá mais. Vocês venceram, seus papa-pipocas barulhentos. Não vou mais ao cinema. Não aguento mais misturar schlofts e pssssss e chulomp chulomps-ahhhs!com Scorsese, Woody Allen, Eastwood, Kubrick, Bergman, Coen, Fellini, Coppola, Hitchcock, Spielberg, Almodovar,Linch, Kiarostami, Tarantino e tantos outros diretores de cinema geniais e seus filmes maravilhosos.

Pois se o bom de ir ao cinema é sair da vida real e entrar na vida dos personagens, o que é, por amor de deus, que estão fazendo essas criaturas insensíveis - que odeiam cinema e adoram pipoca - atrás, na frente e ao meu lado, me trazendo abruptamente de volta ao lugar onde estou?

Se a delícia do filme é virar pó, sumir do mapa, se desintegrar pelos corredores e vielas e vírgulas e suspiros das cenas, quem catzo está produzindo esse infernal barulhinho de pipoca mastigada de boca aberta e papel amassado, que me pesca com violência de volta pra sala?

Quando meu coração se aperta e a respiração encurta e os olhos se arregalam no candor do segundo de alguma cena que levou um milhão de segundos pra ser feita, por que cargas dágua um fdp perto de mim ou ali adiante mais pra baixo, destrói tudo com a sanha infame dos seus molares e incisivos caninos?

Por quê, meu deus? Por que eu tenho também que suportar esse cheiro nauseante de manteiga que quase me faz vomitar e que depois gruda no carpete e adquire um asqueroso olor de chulé? Por que eu tenho ainda, na saída, que pisar nas centenas de pipocas que os horríveis hagares falsos cinéfilos derrubaram no chão, na ânsia obsessiva de consumir até o último piruá aquele inacreditável baldão de pipoca jumbo?

Quer saber, mesmo, por quê? Em seu blog da revista Carta Maior, Emir Sader revela que 90% da arrecadação nos cinemas não vêm dos ingressos. Vêm das comidas e bebidas, leia-se pipoca e refrigerante.

Sader traz o depoimento de um executivo de cinema dos EUA, obtido no livro O Grande Filme, de E.J.Epstein( Summus) que afirma: o segredo para uma grande cadeia de multiplexes bem sucedida está naquela porção extra de sal acrescentada à pipoca. Aumenta a sede e implora por um refrigerante. Ahá! Cães!

Mas, a meleca não pára por aí. Sader também reporta o testemunho de um dono de cinema que atribui descaradamente ao porta-copos nos assentos do cinema "a inovação tecnológica mais importante desde a sonorização". Socorro!

Por isso em todas as novas salas de cinema de shopping cruza-se antes pelas lanchonetes, diz Sader. E o apaixonado dono de cinema aquele, que na real não passa de um desapaixonado dono de lanchonete, faz questão de arrematar: "Quanto mais pessoas conseguirmos fazer passar pela pipoca, mais dinheiro ganhamos".

Ah, bom! Pelo menos agora eu sei que aquele monte de bruto entrando com pipoca no cinema, antes de ser um bruto é, na verdade, um marionete.

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5 comentários:

  1. Jose Carlos Piedade escreveu:
    Oi Graça, oportuno seu artigo. Sofro do mesmo jeito que vc quando vou ao cinema. Além da tortura da pipoca e papel de bala sendo amassado, é comum aquelas duas amigas que vão ao cinema só pra botar o papo em dia...
    Na tentativa de me livrar dessa coisa chata, tenho ido ao cinema na primeira sessão da tarde e sento umas dez cadeiras distante de qualquer infeliz que estiver na sala.
    Se é a pipoca que paga o dono do cinema, sem problemas... eu toparia pagar o dobro do preço do ingresso para ver um filme sem esses porcos mastigadeiros...
    Ou colocar veneno na manteiga da pipoca pode ser uma saída também. Ou ainda, espalhar que pipoca diminui o apetite sexual e quem come fica brocha prematuramente.
    Beijão,
    JCP.

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  2. Fabio escreveu:
    Muito bom!!!
    O texto que eu queria ter escrito!
    Quando tô sentado num lugar vazio e vejo um cara chegando com pipoca eu começo a pensar: sai daqui FDP, vai comer essa pipoca na puta que te pariu!hahahaha

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  3. Claudio Fernandes ‎escreveu:

    - ainda se faz cronica da melhor qualidade

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  4. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

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  5. E aqueles ou aquelas que ficam comentando o filme, hein, Graça?

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