Não é que eu não goste de cachorro, gato, hamster etc. Até gosto, acho bonitinho. Só não quero é intimidades com eles.
Não quero nenhum desses seres me lambendo o pé, a mão, muito menos a cara e in-fi-ni-ta-men-te menos, ainda, a boca. Quanto menos não seja, por uma questão de higiene, eca! Pois se a primeira coisa que cachorro faz quando vê outro cachorro é lamber o fiofó do novo amigo, o que é que eu quero com a mesma língua canina investigativa suspeita me lambendo a seguir? Francamente, o bicho não tem o menor critério com aquela língua dele.
Gato, a mesma coisa. O bichinho é bonitinho, fofinho, engraçadinho, mas passa o dia se lambendo. "Tomando banho", dizem seus donos e donas, quase com lágrimas nos olhos, completando, exultantes: - "São mais limpos que a gente!".
Mas eu, por mais que me esforce, só fico pensando: - Sim, o gatinho tomou banho de língua, mas, quem lavou a língua dele, depois que ele lambeu as partezinhas dele?
Hamster, então, me dá nos nervos. Bicho neurótico. Até entendo ele, coitado! Se eu ficasse gorda daquele jeito toda vez que comesse e se me trancassem naquela gaiolinha com apenas uma roda pra me entreter dia e noite, acho que eu também enlouqueceria.
Uma vez, me hospedei numa casa onde tinha um desses hamsters, que dormia na cozinha, dentro de uma gaiola. Tchê, no meio do silêncio da noite só se ouvia um estranho e obsessivo pam-pam-pam-pam. Fui averiguar. Era ele, o hamster neurastênico, naquela roda maluca, se exercitando sem parar, às vésperas de um infartinho do miocárdio. Acho que ele só pararia com um tapa na orelhinha ou com uma hamster recém-chegada da Disney.
Um dia uma amiga gatista militante, ao me ouvir comentar que eu não era muito chegada em bicho, me olhou escandalizada. E não se conteve: - credo, como é que uma pessoa tão legal como tu pode não gostar de bicho?
Tomada de surpresa com aquela falsa conexão cartesiana, respondi: - Se gostar de bicho indicasse caráter, o que dizer do Hitler, sabidamente um apaixonado por seus cães?
( Pronto. Falei! Cansei de ser olhada como vilã só porque não faço gutiguti cada vez que vejo um bichinho de estimação.) ( Graça Craidy)
SE VOCE GOSTOU DESTE POST, TALVEZ SE INTERESSE POR ESTE.
Um blog à beira de um prozac. Reflexões sobre pós-modernidade, criadores publicitários, artigos acadêmicos, vida real, memórias, xingamentos, declarações de amor e desaforos em geral.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
DESTAQUE
Washington Olivetto, redator: o golden boy " Publicidade é a coisa mais divertida que se pode fazer vestido." Wash...
MAIS LIDAS
-
- 'Bora, Bob? - convidava Neil, neto do turco Haddad, dito Ferreira. Era pra já. Rabo abanando, o incondicional Bob - de r...
-
Até os anos 60, ser da Criação em qualquer agência de propaganda no Brasil significava ser menosprezado pelo Atendimento, ignorado...
-
Devastador. Todo mundo sai do filme Para sempre Alice com uma terrível certeza: sim, eu vou ter Alzheimer! ...
-
No meio do caminho tem um celular . Sartre que me perdoe o uso fútil de sua famosa frase, mas nada é mais representativo do inferno e...
-
Os criadores publicitários, o capitalismo e o imaginário da ditadura militar Ressaca. Naquele janeiro de 1969, ainda vigorava fresca no...
-
E ntão, você acha, mesmo, que a Gisele Bündchen lava o cabelo com o shampoo Pantene e assina a TV a cabo Sky? Ou que a Ana Maria Br...
-
Eu trabalhava na criação da J. Walter Thompson, em São Paulo, e o pessoal descolado da agência que vivia metido em boemias e aventuras gas...
-
Dissertação de Mestrado 2007 PUCRS Em 1968, o redator publicitário Roberto Duailibi e os diretores de arte Francesc Petit e J...
-
O impagável Tom Wolfe, eterno mestre do New Journalism, em seu livro A PALAVRA PINTADA (Rocco, 1975), descreve com ironia e fatos e nomes a...
-
Breu. Estamos todos destinados à eterna incompreensão. Aceite. Ou continue aí se torturando ondefoiqueuerrei. Cada um de nós é uma caixa pr...
Adriana Gragnani escreveu:
ResponderExcluirGosto e respeito animais. Mas caço lesmas. Achei seu artigo ótimo. O final foi um tanto quanto duro, né?