Poesia: Coração Delivery


Minha entrega é sempre tênue/ e teme/ como quem mede o fogo/ e treme/ relembrando antigas cicatrizes/ Quem já queimou as asas muitas vezes/ não voa livre/ e nem é leve o retomar do ato/ Todo o doído de outros vôos prende o pé/e embota o meu querer alado/ O corpo todo ainda arrepia o arrependido/ e o aprendido ainda congela o meu avesso/ Medo do corte, da dor, do repetido/ do tantas vezes reprisado sad end/

Mas o lobo é caricato: chega rindo/ vestindo a fantasia do quem sabe/ E a estalactite da minha alma se comove/ e pouco a pouco se derrete/ expondo a carne/ E os meus veludos, minhas floreiras se entreabem/ com a esperança receosa de um verão/ E quando o sangue corre mais rápido em minhas veias/e quando as águas do meu ventre se libertam / estanca o sol, a lua, a luta/ E antes que o galo se levante e cante três vezes/ tudo é negado/

E vem o luto, a tarja, o pejo, a mão vazia/ E a velha ratoeira enferrujada/ aperta e me tortura novamente/ num melancólico deja vu de tantas vezes/ O mesmo telefone que não toca/ a camisola branca inútil na gaveta/ uma taça vazia pedindo vinho/ E eu de novo catando meus pedaços/pra remendar mais um remendo em minha paz/ pra disfarçar o meu cansaço/ e pôr em cena mais uma vez todo o meu aço.

( Graça Craidy, 1995)

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