Bundas na janela. Apenas R$ 1,99.

Mas que tanto penduram os lençóis manchados de sangue na janela, de novo, com marca de hímens recém-deflorados? Voltamos agora a práticas retrôs. Que barbarismo!

Quem foi que disse que precisamos dar satisfação do que rola em nossos lençóis ao povo, ao povoado, ao país, ao mundo? Onde é que está escrito que as pessoas têm que abrir suas janelas e sair berrando aos quatro ventos como, com quem e por que razão estão fazendo sexo em suas vidas?

Ando enjoada dessa exposição pública das práticas sexuais contemporâneas. Afinal, a quem interessa saber se fulana transa com fulano, se fulano transa com sicrano, se beltrana transa com fulana ou se está há muito tempo sem transar? A mí que!

Ultimamente parece que as pessoas estão obsecadas com escancarar o script barato de suas alcovas. É pai que declara publicamente que o filho, a filha é gay. É mulher que revela cirurgia da reconstrução de suas partes íntimas. É homem que ostenta viagras. É deputado que acusa filha de ministro de promíscua. É cantor ícone de sexo que depois de muito balançar sua pélvis para mulheres revela que sua pélvis balançava, mesmo, era para homens. É um tal de sair do armário que já dá pra montar miles de brechós de armário vazio. É um tal de mostrar os peitos novos de silicone. É um tal de bunda sacudindo morango, melancia e que-sé-yo! Que onda de melancólico desmistério!

Quer sair, entrar, rebolar, siliconar, no problem, baby. Mas não me venha alugar o meu cérebro com o seu assunto pouquinho de sustança. Por que eu, logo eu que nem sua parente sou? Não tenho nada a ver com isso. E os outros, eles também, o que têm a ver com isso? O que é por exemplo, que o seu Alcides do açougue tem a ver com isso? O Pedrinho do Telepizza? A Marildes, da secretaria do colégio? A Cleide manicure do salao aqui do bairro? A presidente Dilma? O diretor social do Clube de Bocha? O seu Donizete do jornal? A dona Teresa da mercearia? O Marcos da faculdade. O que é que, afinal de contas, os outros têm a ver com pintos, peitos, bundas e xoxotas alheios?

Como reparou o sociólogo Maffesoli, exubera no mundo hoje uma compulsão pornográfica por expor tudo, no desejo, segundo ele, de partilha. Um partilha que não quer mais apenas ser ouvida. Quer ser aceita, quer ser perdoada, quer ser aderida, curtida, comunidadizada, tietada, quer ser ungida. Uma partilha carente de aplauso, de claque. Sei lá, pra que esse exagero?

O que é que deu em todo mundo agora de querer se postar na vitrine feito as prostitutas de Amsterdã, ansiando pela exposição de suas genitálias, se entregando em holocausto de suas libidos, se rasgando em tiras de tristonhos voyeurismos?

Vejo nisso tudo um desejo exausto de si, alforria de pecados e temores, vontade de se mercadorizar, e ao se mercadorizar, livrar-se do fogo do inferno, do medo da morte, do vazio de ideais, vomitar catarse, cuspir consumo, não carecer mais de pensar.

- Fogo no rabo, dizia o povo, antigamente. - Fulana tem fogo no rabo, sentenciavam os fiscalizadores rigorosos dos baixios vicinais, daquele jeito que soía acontecer em aldeias. Bem como agora acontece, na aldeia mcluhana da internet e da TV ou no mundo mágico de Caras. Tudo muda pra continuar tudo igual.

Lembra quando Gonzaguinha cantava: "A gente quer viver a liberdade, A gente quer viver felicidade, A gente não está com a bunda exposta na janela Pra passar a mão nela"? Cantava prenhe de razão. Bunda exposta na janela pra vir alguém passar a mão nela é tudo, menos liberdade ou felicidade.

Respondeu um amigo meu, discretíssimo gay, justificando porque não se assumia perante sua família: "Na verdade acredito que as pessoas não devam saber coisa alguma da vida de ninguém", ele afirmou, sereno. "O tempo e energia que gastam com isso...", continuou." Um dia será tão cômica essa discussão sobre orientação, quanto os questionamentos no passado sobre canhotismo ou divórcio".

Enquanto não chega esse dia, senhoras e senhores, que tal já irem recolhendo suas bundas da janela? Que tal me excluírem do seu swing compulsório? Esse espetáculo já cansou.( Graça Craidy)

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8 comentários:

  1. William Vicentin escreveu:

    Ta barato pra caramba!! rs

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  2. Tá bom, Graça: vou tirar o silicone das juntas do box do banheiro e da pia da cozinha...

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  3. Bruno Stelet escreveu:

    É isso mesmo: guardemos nossas vidas privadas pra, então, podermos levar a público somente o que de fato coletivamente importe . Viva o blog da Tia Graça!

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  4. Águida Kopf escreveu:

    Não sei...mas também sinto isso...um certo despudor..pois é "pudica"...talvez eu seja...mas penso que para voêe assumir sua sexualidade. não precisa dessas pretensas não afrontas...Para quê?Não que algo seja feio e deva ser escondido..mas..um beijo quase dado ou para ser dado? Você sai falando? Não...Sou pela delizadeza de tudo que compartilhamos com o outro.

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  5. Bruno Stelet escreveu:

    Por outro lado pode ser um pouco exagero do ser humano. Antes era tudo muito conservador, aí pra combater isso, o que se faz? exposiçao total. Acho que a questão é entendermos que há a esfera privada e a esfera pública. E a fronteira entre ...uma coisa e outra é flexível. Por exemplo: antes achava-se que bater na esposa era coisa da esfera privada. Hoje já se pune (ou tenta) quem o faz. Sexo e sexualidade era da esfera privada. Agora tb tem quem o faça da pública. É uma confusão só!

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  6. Este teu ótimo texto dialoga com um meu, sobre a confissão religiosa ter se "secularizado" e virado obrigatoriedade. ;)
    Tá aqui, ó: http://malvamauvais.wordpress.com/2010/04/28/o-sexo-e-a-fantasia-de-transgressor/

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  7. Graça, vai ver que toda essa desenfreada e crescente ostentação da intimidade seja nada mais do que o uso inconsciente das liberdades escancaradas e tecnologias indomáveis que chegaram para ficar. Graças a algum bom deus. Pena que esse algum deus, segundo as lendas, tenha nos criado "conforme a sua imagem e semelhança" e, com todo o respeito, ele não se mostrou jamais ser um ser sem orgulhos e vaidades. Ao contrário, se autoproclamando onipotente, onicisciente e outros onis, senta-se no trono do narcisismo, embevecido com os nossos cânticos de louvor às suas bondades e belezas. E aí estão o homem e a mulher, héteros, homos, bi, trilegais, simpatizantes, todos narcisos, loucos prá mostrar, uns aos outros, tudo o que sabem e podem fazer com seus sexos. Num interminável espetáculo teatral em que palcos e platéias se fundem (?) em ato único de esperma geral, todos gozando a vida como ela realmente é. Obrigado Nelson e José Celso. Heber Monteiro.

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  8. Olha o que achei>> http://escrevalolaescreva.blogspot.com.br/2012/11/artigo-na-veja-sobre-gays-espinafre-e.html.

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