“Liberté, egalité, communication!” Esse é o grito de guerra inequívoco do sociólogo francês Dominique Wolton, em seu livro Internet, e depois?.
Na contramão assumida do fascínio contemporâneo pelas novas mídias, Wolton passa as 232 páginas do seu livro reivindicando um estudo mais sério sobre a comunicação, defendendo o valor democratizante da TV e do rádio, e alertando para os perigos do endeusamento da técnica performática como substituta das verdadeiras relações humanas.
Ao contrário de Debord e Baudrillard, que diabolizam a mídia de massa como manipuladora e espetacularizante, e mais próximo a Lipovetsky, que vê na TV uma neutralizadora de totalitarismos e catalisadora de várias correntes de pensamento, Wolton chama os proselitistas ferrenhos da internet – inclusive a imprensa escrita – de ingênuos, reducionistas, adesistas, elitistas e, por consequência, antidemocráticos.
“O essencial em um sistema de comunicação não é a tecnologia” – diz ele - mas “a ligação entre técnica, modelo cultural e projeto social”.
Respondendo com ironia às críticas das elites à pretensa manipulação da comunicação de massa sobre os telespectadores, Wolton compara o receptor da mídia generalista ao cidadão:
- Por que seria ele livre, ativo, crítico e inteligente em matéria de política e passivo, influenciável, um simplório, em matéria de comunicação?
O autor elogia a abertura das mídias generalistas como reforçadoras dos laços sociais, da identidade cultural da sociedade, do coletivo e do individual, e do conceito de maioria inerente à democracia, garantindo aos cidadãos-telespectadores o acesso gratuito a toda sorte de informação para que a julguem, critiquem, absorvam, metabolizem, discutam, dialoguem, superando suas diferenças em um nível mais amplo de trocas, ao mesmo tempo em que mantêm as suas diversidades.
Dessa forma, diz Wolton, nesse “ estar junto da consciência coletiva”, é possível criar um “ tecido social e cultural”.
Wolton entende a sedução das novas tecnologias como um reflexo da crise de utopias e da típica hiperindividualização do mundo atual, onde os usuários vivem, segundo ele, uma espécie de nova utopia da liberdade individual, sob a lógica da demanda – “eu navego onde quiser, num tempo presente expandido, sem limite de informação”.
Porém, existe um outro lado a observar, alerta Wolton: o lado da não-história que empobrece a cultura, sem “ estoque, perenidade, só fluxo”, e o lado das profundas solidões interativas” que reforça e escamoteia as dificuldades reais da comunicacão tête-a-tête. E, ainda, o lado do tempo técnico defasado do tempo real, que causa um desconforto interno antinatural além de bloquear a ação.
“Os homens (…) estão, como o coelho branco de Alice no país das maravilhas, sempre atrasados”, constata Wolton, oprimidos pelo que Edgar Morin já chamou de lógica da máquina artificial.
Para Wolton, no bloco do eu-sozinho propiciado pelas novas tecnologias, o vínculo social fica frágil, a identidade coletiva se desmaterializa, a demanda aleatória pelo saber disponível na rede pressupõe um conhecimento prévio de o quê, como buscar, requer intermediários.
E há também a questão da veracidade da informação circulante: até onde uma mídia sem regulamentação é confiável? Até que ponto o virtual é verdadeiro?
Wolton não incorre no erro maniqueísta de diabolizar as novas mídias, dizendo inclusive que elas são necessárias e complementares às mídias de massa. O que ele quer é desmitificar a tecnologia como pretensa solução, pseudo progresso, ícone falso de modernidade.
Aliás, Wolton alerta: a globalização é regida meramente por interesses econômicos que nada têm a ver com o legítimo tripé da comunicação, técnica, cultura, projeto social. Daí que, ele sugere, seria prudente verificar quais interesses movem essa mundialização da comunicação comandada por uma tecnologia que tem dono – os Estados Unidos – e que pode muito bem acabar impondo o seu padrão cultural, varrendo a diversidade do planeta, ao mesmo tempo em que garante mercado para seus softwares, hardwares e programações.
Em nome da modernidade, seríamos todos neoescravos de um grande império americano consumidor? Eis a questão.(Graça Craidy)
WOLTON, Dominique. Internet, e depois? Uma teoria crítica das novas mídias.
Trad.Isabel Crossetti. Porto Alegre: Sulina, 2003.
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Aldo Jung escreveu:
ResponderExcluirPra quem acha que a internet é deus e a TV, o diabo...