Nos anos 60/70, surgiu uma espécie de perseguição política, desta vez intramuros, praticada por amigos, colegas, parentes - uns contra os outros - que, aliás, vige até hoje: uma bizarrice invasiva e desrespeitosa denominada "patrulha".
A expressão "patrulha" foi cunhada pelo cineasta Cacá Diegues, que um certo dia cansado de tanto cuidares de vidas e cabeças alheias, se rebelou: - fora, patrulheiros! Em analogia aos policiais da rádio-patrulha rondando a vida dos outros para validar comportamentos e enquadrar quem sai da trilha.
Patrulha que pos-modernamente falando, o escritor Amós Oz escancara e chama pelo nome real: fanatismo.
Eu chamo de mala, mesmo - aquele tipo de pessoa que quer decidir por você o que você deve pensar, o que deve comer, em quem deve votar, e agora, parece, também, o que você pode pintar.
Sim, senhor! Fazem aquele ar esnobe bem anacrônico de intelectual metido a descolado e.... humpf! que noujo!
Imagina eu que tenho quase 20 lindas Fridas pintadas. Escuto esse rosnar culturalóide, e fico que nem o Cacá nos anos 60/70: de saco cheio!
Ora, vão cuidar dos seus quadros, vão cantar ponto em outra freguesia!
Gente chata e metida!
Outro dia uma criatura enlouquecida, minha amiga - amiga?! - professora de cultura - veja a incoerência! de cultura - entra feito caminhão desgovernado num post da pintura de uma Frida que eu tinha acabado de publicar e, totalmente ensandecida, ficou ali fazendo discurso que estava cheia, por-aqui, cansada de Frida! chamando quem gosta de Frida de medíocre!
Sorry! Medíocre, eu? No me hagas reír! Só se eu nascesse de novo, meu bem! E ri sozinha, lembrando que pelo menos duas das brilhantes intelectuais que eu conheço - Ana Maria Colling e Lu Vilella - também como eu adoram Frida.
Pois hoje, acabada de publicar o quadro de Frida que doei para exposição da Chico Lisboa e um moço - do reino dos cansados - comenta ironicamente que se a Frida ganhasse direitos autorais estaria rica, algo assim. Embutidos por trás do comentário pretensamente inocente uma crítica ácida e um enfado superior.

E não adiantou eu argumentar que não é a Frida, é o mito empoderador da Frida que move a paixão por ela, é o seu exemplo de vida, é a sua superação como mulher e como pintora, é a sua autonomia para ser o que quis - dentro dos seus limites que eram muitos -, entre outras mil razões que qualquer estudioso de cultura sério e sem preconceito iria descobrir.


E não adiantou eu argumentar que não é a Frida, é o mito empoderador da Frida que move a paixão por ela, é o seu exemplo de vida, é a sua superação como mulher e como pintora, é a sua autonomia para ser o que quis - dentro dos seus limites que eram muitos -, entre outras mil razões que qualquer estudioso de cultura sério e sem preconceito iria descobrir.
Que Frida é tipo uma Santa Bárbara contemporânea, guerreira, Yansã. Que Frida é tipo uma São Jorge de saias. Que ter uma Frida por perto é como se nutrir da sua coragem de viver, da sua ousadia, sua atitude. Um amuleto amoroso.

E se você não gosta do que ela fez da vida dela, paciência. Talvez ela também não gostasse da sua, talvez ela achasse que a sua vida é que é medíocre.
Naum?
Só não me venha tentar menosprezar essa escolha com ares pernósticos e suspiros langorosos. Eu pintei, pinto e pintarei Fridas. Gosto de Frida. Vou continuar pintando Frida até o dia que eu quiser e não até o dia que os patrulheiros das artes desejarem.
Ah, e saiba que o amor pelo pobre do Van Gogh também está em perigo e começando a ser execrado pelos semideuses de plantão. - Frida, Van Gogh, Anne Frank...Que triste, naum? disse a moça, solidária com a bobice do fridófobo.
Ara, vão plantar marijuana! E relaxem, seus cansados.
(Graça Craidy)