Vender ou encantar?

Volta e meia - muito mais volta e meia que a minha paciência gostaria - alguém me cobra, com os olhos embaçados pela luxúria da mercadoria: - exposiçao, ok...mas, estás vendendo? Como se vender fosse a medida do sucesso de um artista. Como se vender fosse a função maior da arte. Como se vender fosse a vontade maior que movesse um artista. Depois de suspirar e respirar bemmm fundo, respondo que não. (Para a total decepção do interlocutor!) Respondo também que vender não é a minha meta. A minha grande meta, o meu desejo maior, a minha mais ambiciosa pretensão é tocar o Outro, encantar o Outro, mexer com o sentido do Outro, bolir no pensamento do Outro. Empurrar amorosamente o Outro pra dentro de si. Fazer o Outro se encontrar consigo mesmo no desvão da minha arte. Levantar questões que não estão sendo faladas. Chamar atenção para o não-dito, o não-visto, o não-mostrado. Encantar com a beleza das coisas do mundo. Encantar com a feiúra das coisas do mundo. Esse é o meu grande barato. Por isso gosto tanto de expor e por isso que exponho tanto. Só nos últimos 4 anos foram 45 exposições, das quais 20 individuais. Eu gosto de estar em contato com o Outro, gosto de fazer uma arte que é entendida por qualquer um que queira frui-la, gosto de praticar uma arte de compreensão sem pre-requisito. Venho da comunicação. Pra mim, toda mensagem emitida deveria poder ser decodificada pelo receptor, sem mistérios. Quanto a vender, bueno, de vez em quando até vendo e é bem bom. Cai que nem uma luva pra pagar algumas continhas. Só fico pensando, lá no fundão, que aquela obra vai ficar escondida, guardada, nunca mais vou ve-la, snif! Mas, enfim, também é mais dinheirinho pra comprar mais tinta, mais tela, mais material pra continuar a fazer o que amo. Tocar o Outro com a minha arte. Capice?
( Graça Craidy)

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