Identidade: Humana

EU SOU MULHER, NEGRA, AFRICANA, MAS A MINHA MELHOR IDENTIDADE VEM DE SER HUMANA. Assim começou o discurso da maravilhosa Graça Machel, moçambicana que inaugurou nesta segunda-feira o Fronteiras do Pensamento 2019, na Reitoria da UFRGS, e foi Ministra da Educação, na África, duas vezes: uma no governo de seu primeiro marido Machel, em Moçambique, outra no governo do seu segundo marido, Mandela, na África do Sul.
Graça Machel é uma humanista fantástica formada em Lisboa, que se vale das palavras sem metades, para dizer o que quer. É reta e direta. Falou que veio aqui para nos falar de coisas simples, porque a humanidade está precisando retomar o básico. O básico é reconhecer que somos todos iguais, independente da cor da pele, do sexo, da condição socioeconômica. E que todos merecemos o direito à dignidade contido no direito à igualdade. Que somos todos de uma grande e mesma família: a família humana. E que as nossas diferenças devem servir para nos enriquecer na troca, não para criar hierarquias.
Ela alerta para a ganância do homem que não se satisfaz com o suficiente e se mete numa empreitada desumana de acumulação que só tem trazido desigualdade e guerra e exacerbações do poder de uns sobre os outros. E que a pior das guerras é a contra a natureza, que se mostra "zangada" e nos avisa que pode acabar já já com o futuro dos nossos netos.
Graça Machel alerta ainda para a desigualdade das mulheres em rigorosamente todo o planeta, até nos países mais desenvolvidos: - "ninguém pode se gabar de haver acabado com a desigualdade das mulheres", ela lamenta, lembrando que ainda hoje - mesmo na Escandinávia - os salários homem/ mulher são diferentes, quando ambos cumprem a mesma função. "Só porque é mulher!"- ela enfatiza. E repete: "Só porque é mulher!".
Machel diz que ficou horrorizada com o corte anunciado nas nossas universidades federais, que jamais se deve podar a fonte do conhecimento, fonte também do potencial acesso à igualdade. Ela aconselha que nos juntemos em movimentos sociais e reivindiquemos e realizemos nossos anseios de igualdade e justiça. "Os donos do país somos nós, o povo, nós pagamos impostos para que nossos filhos sejam alimentados, tenham escola, saúde. Então, vamos unidos dizer para aquelas pessoas que estão lá - eleitas por nós-, que é assim que queremos, ou que não é assim que queremos. O apartheid foi derrubado com movimentos sociais," ela lembra.
Ela lamenta também a invisibilização do negro no Brasil, onde metade da população é de origem africana: "não são apenas males sociais - ela sublinha -, mas distorções profundas da igualdade que precisam mudar."
Ela fala muito em dignidade, dignidade é inviolável, indignidade é intolerável. "Quando os outros seres são tratados como coisas, privados da sua própria dignidade, é a nossa dignidade, como seres humanos, que é esmagada."
E, para finalizar, perguntada sobre o que ela aprendeu sobre poder quando partilhou os mandatos com dois grandes líderes como Machel e Mandela, Graça Machel respondeu que o verdadeiro poder deles vinha de sua humildade e de sua autoridade moral e que ambos consideravam o poder como nada mais que uma oportunidade de servir. ( Mandela, acredito, mais pacifista que Machel.)( A plateia aplaudiu Graça Machel de pé.)

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